sexta-feira, 25 de novembro de 2016

O Abraço



































O clã Danava tradicionalmente Abraça seus novos membros oferecendo seu sangue aos Deuses de nossos sistemas de Castas, onde o membro inicia para sua nova vida após a morte.
Para isso o jogador devera passar por ensinamentos e avaliações rígidas diárias, realizando assim seu juramento de lealdade para com o clã e toda sociedade ventrue.  
Os mortais supersticiosos ponderam muito sobre os meios segundo os quais um vampiro passa a existir.
Tais considerações variam do religioso ao bizarro, podendo constituir, a quem agrade o gênero, uma leitura noturna aprazível.
O primeiro e mais comum desses mitos é a lenda de que qualquer pessoa mordida por um vampiro tornar-se-á também um vampiro. Dessa forma, cada vez que um vampiro se alimentar, criará outro de sua espécie.
É de admirar, portanto, que ainda haja mortais no mundo. Outra lenda reza que um cadáver pode tornar-se vampiro se houver cometido suicídio, tiver quebrado votos, integrado uma linhagem maldita, ou sido uma pessoa maligna de tout.
Mais uma vez, o mundo estaria povoado apenas por vampiros e posso garantir-te uma coisa: não vi esse exército de nosferatus. Ademais, até onde sei, não existem muitos de nós neste mundo.
Segundo minha experiência, existe apenas uma forma pela qual um mortal pode tornar-se um vampiro.
A vergonha mais uma vez invade minha alma quando recordo que planejei esta sina para ti, e exulto pela Providência haver-me impedido.
Arrependo-me verdadeiramente de quase ter-te condenado a uma eternidade de sofrimento.
Para tornar-se um vampiro, uma pessoa precisa perder todo seu sangue mortal mas isso é apenas parte do horror. Se nada mais for feito, mortui exsanguinati mortui veri; as presas matarão de modo tão definitivo quanto à lâmina ou à bala.
À medida que a vida se aproxima da extinção, a carne morrendo lentamente, o vampiro agressor pode escolher poupar a vítima da morte ou negar-lhe a dádiva do Paraíso, afinal é ele quem dá as cartas.
Substituindo o sangue mortal roubado por um pouco do seu próprio sangue, cria-se um progênito. Apenas uma simples gota de sangue sobre os lábios do moribundo anima-o o bastante para que beba do sangue de seu senhor.
Mesmo a passagem dos séculos não obscureceu minhas dolorosas lembranças. Compreende que não sou covarde. Como soldado, suportei as privações da vida militar, os perigos da batalha e a selvageria da vitória, na qual admito minha parcela de culpa.
Mas mesmo a barbárie que presenciei como prisioneiro dos turcos não poderia ter-me preparado para a experiência de ser tragado para esta maldita meia-vida. Quando meu sangue foi roubado, encontrava-me, de gratia potestates descriptis, num estado de espírito muito pacífico.
Quanto mais tipos de mortes conheço e tenho presenciado vários mais convenço-me que a minha foi a menos angustiante. Foi como se minha experiência fosse um sonho estranho, com um toque surreal.
Nas pronfudezas sombrias e cálidas de minha mente moribunda, tornei-me cônscio de uma luz; sabia que ela marcava para onde eu deveria ir, e estava certo de que, uma vez lá, tudo estaria bem comigo.
Comecei a flutuar em sua direção. Abruptamente a luz foi apagada. Meu rosto sentiu o impacto, forte como o de uma bala de mosquete, e tentei gritar, a boca cheia de fogo líquido.
Uma causticidade cauterizoume a garganta e o estômago; a consciência retornou com tal violência que parecia arrancar-me os membros, um a um. Mil anzóis rasgaram minha carne, puxando-a em todas as direções.
Multipliques por mil a ardência do vinagre num dedo cortado, e deixes essa sensação transbordar através de cada membro e de cada veia. Acrescentes a isto a dor contínua e torturante de uma marcha de cinco dias sem comida ou água.
Negues sono, desfalecimento ou qualquer outra trégua à dor. E... Não adianta! A minha habilidade em tecer palavras está alem das exigências descritivas de tal sofrimento.
Sabia apenas que precisava beber, e ao fazê-lo pude abater um pouco minha dor. Minha visão clareou e então vi o que havia bebido. Minha primeira reação foi de descrença. Isto não podia estar acontecendo.
Quando criança, minhas amas assustavam-me para dormir com histórias de terrível, mas havia reconhecido que tais histórias não passavam de fábulas.
Só podia ser um pesadelo, algum tipo de alucinação. Tentei concentrar meus pensamentos em carne, frutas, vinho, mas em vão. O sangue era vida. O sangue era realidade. Tudo empalidecia diante dele.
Posso apenas ser grato por naquela época encontrar-me em um lugar remoto. Tivesse sido abraçado numa cidade, com gente ao meu redor, imagino que devastação teria causado. A Fome embota completamente nossa razão.
Caso meu próprio filho houvesse aparecido diante de mim, teria morrido para saciar-me a Fome. Estava completamente escravizado por ela. Nenhum viciado em ópio jamais foi um dependente tão indefeso e desventurado.
Gritei por misericórdia. A memória e a recordação do que se seguiu abala-me a ponto de impedir-me prosseguir a narrativa.

































Fonte: Vampire: The Masquerade 20th Anniversary Edition , p. 9; 10.

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